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sábado, 6 de agosto de 2016

O Homem que Vestia Preto



Era início de tarde, fazia sol e a temperatura estava agradável. Eu e a Judy Poppy (Poodle Fêmea) fomos passear pelas redondezas. Todos os dias, o percurso era praticamente o mesmo, com algumas exceções, desvios e ruas diferentes para não criar monotonia e achar lugares com grama para a Judy cheirar. Mas, ao término do passeio, as últimas ruas sempre eram as mesmas que faziam o entorno do bairro e nos direcionavam ao nosso lar.

Nos seus pátios, enclausurados em poucos metros quadrados de grama e calçamento, cachorros latiam e pulavam contra muros e grades, ao mínimo senso de percepção de nossa chegada. Era uma festa! Ou eram brigas, discussões e debates? Não sei dizer, porém, as cadelas eram cachorras e as cachorras eram cadelas.. He! He! Como mulheres, brigavam e partiam pra cima umas das outras e precisavam ser apartadas. 

Ah, os donos! “Pais e Mães adotivos” que entravam na ‘conversa’ e contavam breves histórias de seus filhotes relacionadas com o evento em questão ou não. Risos e muita felicidade, um momento que merece registro pois é único e só quem tem amor pelos animais pode entender o que sentimos. Bagunça geral, como crianças. Nos despedimos como podemos em meio à “latição” e cada um por si agora.

Carros e mais carros, difícil de atravessar no cruzamento. Meio irônico, um cruzamento bem na esquina de um cemitério. 

Você pode achar que caminhar em volta de um cemitério não é o melhor passeio da vida. Talvez tenha medo ou pura superstição, entretanto, para mim não faz diferença. Aliás, é até vantajoso, visto que é o único lugar perto que tem calçada boa, larga, com grama e lixeiras. Além do sol que “bate” direto lá. 

Reparou que eu comentei sobre as lixeiras?

Sério, aqui, o cemitério é o único local do bairro que possui lixeiras e muitas. Nunca entendi o por quê! Já tentei raciocinar a respeito, pensando que, como tem muita visitação, as lixeiras são necessárias. Algo bem óbvio para se concluir. No entanto, dificilmente tem um grande público às voltas diariamente, tanto que as lixeiras raramente estão cheias e a PrefPoa não é tão eficiente assim. Bom.. eis a razão para a minha escolha “mórbida” de caminhada. Já é hora de retornar!

Nestas minhas saídas, uma pessoa tornou-se recorrente por algum tempo. Um homem magro, estatura mediana, moreno e vestindo sempre calça e camisa pretas. Não era um vendedor de sonhos, mas de cucas, ou melhor cuca. Era sempre uma cuca molenga, exposta ao calor do sol, que ele tirava não sei de onde, ela aparecia como mágica em suas mãos pois nunca percebi uma sacola ou carrinho de mão. 


Em nossos encontros, as poucas palavras que trocávamos eram as mesmas: 

- Quer comprar? (Dizia ele)
- Não, obrigada! (Dizia eu)
- É só R$5,00. (Dizia ele)
- Eu não ando com dinheiro. (Dizia eu)
- Tá bom, muito obrigado e fica com Deus! (Dizia ele)
- De nada, vai com Ele. (Dizia eu)

E seguíamos nossos caminhos..

Certa vez, em mais uma tarde ensolarada, mais quente que o normal, este mesmo homem, ainda um pouco jovem, com as mesmas roupas pretas e a insistente vontade de me vender uma “cuca mágica”, disse baixinho, já indo embora, passando por mim, me deixando para trás, quase sem resposta.. “Tem dinheiro pra comprar esse cachorro, mas não pode comprar uma cuca?!” Respondi que não comprei minha cachorra, foi doação. E ele se foi, desapareceu, Hocus Pocus, Vanished, sem nunca ter conseguido me vender a tal cuca!

Dione Nora, A Guria Dourada, Porto Alegre, 13 de Julho de 2016.

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